terça-feira, 7 de setembro de 2010

Trovadorismo


Contexto Histórico

A primeira manifestação literária portuguesa que se tem notícias aconteceu na idade média, com o trovadorismo, por volta do século XII até o XV. Nessa época Portugal estava passando pela sua estruturação política, pois em 1143 se torna independente, mas não tendo ainda seu território delimitado, que só viria a ser em 1249.

A idade média caminhava para o seu fim, e já existia o modo de produção muito conhecido na época, o feudalismo. Na idade média a igreja católica tinha um grande poder de influenciar as pessoas, e por essa razão o mundo na época era teocentrista, o mundo era voltado a deus, tudo se explicava por meio dele.

O movimento

O movimento do trovadorismo tem sua origem explicada por quatro diferentes versões: Arábica; que considera o seu inicio com a cultura árabe. Folclórica; que foi criada pelo povo. Médio-latinista; que tem origem na literatura latina que criada na idade média. E a litúrgica; que considera fruto da poesia litúrgico-cristão, que estava presente na idade das trevas. Mas nem uma das teses é suficiente para explicar por si mesma qual é a verdadeira origem do trovadorismo.

A primeira poesia trovadoresca que se tem noticia, foi a cantiga da ribeirinha, datada em 1189 ou 1198. Ela foi escrita por Paio Soares de Taveirós em galego-português, (português arcaico, mistura de português com espanhol) língua predominante na época em Portugal. Essa cantiga foi dedicada à D. Maria Paes Ribeiro, a Ribeirinha.

Os trovadores eram homens que compunham as letras e melodias das cantigas. Isso era feito pelos nobres, pois eram eles que tinham maior tempo de se dedicarem as composições, mas isso não impede que os camponeses também compunham. Quem cantava as cantigas eram chamados de jograis, que usavam instrumentos musicais que acompanhavam as letras das cantigas.

Algumas criações dos trovadores eram colocadas em livros chamados de cancioneiros. No total existem apenas quatro cancioneiros, denominados, cancioneiro da biblioteca, cancioneiro da ajuda e cancioneiro da vaticana, a quarta é uma coletânea de poemas para a virgem Maria pelo rei Afonso X de Leão e Castela, O Sábio. Surgiram também os textos em prosa de cronistas como Rui de Pina, Fernão Lopes e Gomes Eanes de Zurara e as novelas de cavalaria, como a demanda do Santo Graal.

Classificação

As poesias trovadorescas tinham suas formas, sendo:

Gênero lírico: dentro do trovadorismo esse gênero é dividido em dois, cantiga de amigo e cantiga de amor.


Cantiga de Amigo: As cantigas de amigo eram feitas não para amigos, mas na verdade para os namorados e amantes. As cantigas são de origem popular, de fácil memorização. Nessa cantiga o autor se coloca no lugar da mulher e o eu - lírico é feminino (o autor era masculino, devido a sociedade feudal, e ao restrito ao conhecimento na época), quase sempre lamentando a ausência do amado, que a abandonou por algum motivo, seja a de ter abandonado por outra mulher ou ter ido lutar em alguma batalha. Muitas vezes as cantigas tinham como cenário o campo, sendo que a protagonista conversa com a mãe ou um de suas amigas. A cantiga de amigo representa o acesso da mulher ao mundo do amor.

“Cantiga de D. Diniz”


"Ai flores, ai flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo!
ai Deus, e u é?

Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado!
ai Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pôs comigo!
ai Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do que mi há jurado!
ai Deus, e u é?"

Vós me preguntades pelo voss´ amigo
eu bem vos digo que é san´e vivo:
ai, Deus, e u é?

Vós me perguntades pelo voss´ amigo?
e eu bem vos digo que é viv´e sano.
ai, Deus, e u é?

E eu bem vos digo que é san´e vivo
e seerá vosc´ant´o prazo saído:
ai, Deus, e u é?

E eu bem vos digo que é viv´e sano
e seerá vosc´ ant´ o prazo passado:
ai, Deus, e u é?
(Dom Dinis)

Hoje em dia esse estilo de escrever é muito usado, um dos exemplos mais conhecido é o de Chico Buarque, Vinicius de Moraes e Tom Jobim.

Tatuagem
Chico Buarque

Quero ficar no teu corpo
Feito tatuagem
Que é prá te dar coragem
Prá seguir viagem
Quando a noite vem...
E também prá me perpetuar
Em tua escrava
Que você pega, esfrega
Nega, mas não lava...
Quero brincar no teu corpo
Feito bailarina
Que logo se alucina
Salta e te ilumina
Quando a noite vem...
E nos músculos exaustos
Do teu braço
Repousar frouxa, murcha
Farta, morta de cansaço...
Quero pesar feito cruz
Nas tuas costas
Que te retalha em postas
Mas no fundo gostas
Quando a noite vem...
Quero ser a cicatriz
Risonha e corrosiva
Marcada a frio
Ferro e fogo
Em carne viva...
Corações de mãe, arpões
Sereias e serpentes
Que te rabiscam
O corpo todo
Mas não sentes... Composição: Chico Buarque - Ruy Guerra


Cantiga de Amor: cantiga de amor o eu-lírico e masculino, sendo que a cantiga fala sobre um amor impossível, a mulher retratada na cantiga é de uma classe superior a do apaixonado, o trovador (de uma classe de pequenos nobres).nessas condições o amor nunca se concretizaria. Se encontra em uma cantiga de amor o desespero do amado por não poder ter a mulher que deseja, ao se referir a mulher, não há distinção do masculino com o feminino “minha senhor” (galego-português não havia feminismo nas palavras terminadas em or, exemplo senhor e orador). Em sua forma praticamente não havia repetições de versos nas estrofes. A cantiga também tem uma característica respeitosa, no qual só enaltece as características positivas da amada. A cantiga de amigo mais conhecida é a da ribeirinha.

Cantiga da Ribeirinha

No mundo non me sei parelha,
Mentre me for como me vai,
Cá já moiro por vós, e - ai!
Mia senhor branca e vermelha.
Queredes que vos retraya
Quando vos eu vi em saya!
Mau dia me levantei,
Que vos enton non vi fea!
E, mia senhor, desdaqueldi, ai!
Me foi a mi mui mal,
E vós, filha de don Paai
Moniz, e bem vos semelha
Dhaver eu por vós guarvaia,
Pois, eu, mia senhor, dalfaia
Nunca de vós houve nem hei
Valia dua correa.


Exemplo de Cantiga de Amor contemporânea:

A mulher que passa
(Vinicius de Moraes)

Meu Deus, eu quero a mulher que passa
Seu dorso frio é um campo de lírios
Tem sete cores nos seus cabelos
Sete esperanças na boca fresca!
Oh! como és linda, mulher que passas
Que me sacias e suplicias
Dentro das noites, dentro dos dias!
Teus sentimentos são poesia
Teus sofrimentos, melancolia.
Teus pelos leves são relva boa
Fresca e macia.
Teus belos braços são cisnes mansos
Longe das vozes da ventania.
Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
Como te adoro, mulher que passas
Que vens e passas, que me sacias
Dentro das noites, dentro dos dias!
Por que me faltas, se te procuro?
Por que me odeias quando te juro
Que te perdia se me encontravas
E me concontrava se te perdias?
Por que não voltas, mulher que passas?
Por que não enches a minha vida?
Por que não voltas, mulher querida
Sempre perdida, nunca encontrada?
Por que não voltas à minha vida
Para o que sofro não ser desgraça?
Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
Eu quero-a agora, sem mais demora
A minha amada mulher que passa!
Que fica e passa, que pacífica
Que é tanto pura como devassa
Que bóia leve como a cortiça
E tem raízes como a fumaça

Gênero satírico: O gênero satírico é composto de ironias, e riso. Serve para criticar o comportamento individual de um cidadão ou de um grupo de pessoas, seja alguém que passou por um problema amoroso, seja uma mulher namoradeira. Essas cantigas são ofensivas e muitas vezes obscenas. Nesse gênero há dois tipos cantigas, cantiga de escárnio e cantiga de maldizer.
Cantiga de Escárnio: é indireta, não cita a pessoa que esta sendo criticada. É mais educada comparada com a cantiga de maldizer, pois não há xingamentos, e sim ironias, com um humor mais requintado.

CANTIGA DE ESCÁRNIO

Conheceis uma donzela
Por quem trovei e a que um dia
Chamei dona Berinjela?
Nunca tamanha porfia
Vi nem mais disparatada.
Agora que está casada
Chamam-lhe Dona Maria.
Algo me traz enojado,
Assim o céu me defenda:
Um que está a bom recato
(negra morte o surpreenda
e o Demônio cedo o tome!)
quis chamá-la pelo nome
e chamou-lhe Dona Ousenda.
Pois que se tem por formosa
Quanto mais achar-se pode,
Pela Virgem gloriosa!
Um homem que cheira a bode
E cedo morra na forca
Quando lhe cerrava a boca
Chamou-lhe Dona Gondrode.

Cantiga de Maldizer: bem mais agressiva do que cantiga de Escárnio, não polpa a pessoa criticada, muitas vezes citando o nome da pessoa criticada e utilizando-se de palavras de baixo calão.

"Ai dona fea! Foste-vos queixar
Que vos nunca louv'en meu trobar
Mais ora quero fazer un cantar
En que vos loarei toda via;
E vedes como vos quero loar:
Dona fea, velha e sandia!
Ai dona fea! Se Deus mi pardon!
E pois havedes tan gran coraçon
Que vos eu loe en esta razon,
Vos quero já loar toda via;
E vedes qual será a loaçon:
Dona fea, velha e sandia!
Dona fea, nunca vos eu loei
En meu trobar, pero muito trobei;
Mais ora já en bom cantar farei
En que vos loarei toda via;
E direi-vos como vos loarei:
Dona fea, velha e sandia!

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